segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CULTURA DE AVALIAÇÃO OU POLÍTICA DE AVALIAÇÃO?

O processo avaliativo envolve aspectos técnicos e metodológicos, porém, traz em seu cerne concepções ética, política e cultural, por centrar-se na participação de pessoas. Assim, seus resultados têm reflexos do meio social onde se desenvolve, carregado de valores próprios, ou seja, ela não é neutra.

A atividade avaliativa poderia ser desenhada como sendo uma concorrência constante entre a legitimidade da coleta de dados e a representatividade dos seus resultados. As estratégias e recursos utilizados pelos avaliadores, nessa disputa, formam visões diferentes das práticas avaliativas mais valorizadas e reconhecidas.

Em uma breve análise sobre a trajetória histórica da prática da avaliação, percebe-se uma evolução entre a mensuração, medida, observação e descrição da realidade, para a análise crítica com julgamento de valor ético-político pactuado entre os envolvidos. Assim, os resultados da avaliação passaram a interessar não só aos avaliadores, mas aos sujeitos envolvidos nos processos avaliativos (os stakeholders).

Essa complexidade, que constitui do ato de avaliar, conduz o avaliador a uma imersão no processo para compreender as múltiplas interferências internas e externas que afetam o resultado. Uma avaliação de aprendizagem, de políticas públicas ou de programas, qualquer que seja, segundo Grinspun (2001, p. 228), "busca travar um diálogo produtivo entre teoria e prática, entre política e ação, entre subjetividade e objetividade", que afetam seres humanos e/ou instituições.

Penna Firme e outros (2009, p. 172) defendem que é necessário diferenciar os conceitos de política de avaliação e cultura avaliativa, pois enquanto a primeira “é percebida como um conjunto de orientações que estabelece regras e procedimentos [...], a cultura avaliativa faz parte do conjunto de [...] crenças, valores, estilos e comportamentos [...]” das organizações. Na opinião da referida autora,

A avaliação é normalmente um desafio tanto para o avaliador como para o avaliado. [...], a presença de uma cultura avaliativa facilita o enfrentamento deste desafio, a sua ausência frequentemente gera medo da avaliação. [...] Realizar uma avaliação em uma área sem política avaliativa e sem cultura da avaliação é um caos [...] (PENNA FIRME et al., 2009, p.173-174).

A cultura avaliativa no Brasil é construída, geralmente, após a implementação de processos avaliativos baseado em experiências de outras instituições.  Todavia, após a sua apropriação pelos envolvidos, o processo avaliativo permite orientar decisões de forma racional e, a partir da compreensão da sua essência, a construção de relações entre a missão institucional com as suas ações e estes aos seus produtos e/ou serviços oferecidos à sociedade.

O link conduz o leitor desse blog a um interessante artigo da Thereza Penna Firme, e outros autores, onde os conceitos de “cultura de avaliação” e “política de avaliação” são discutidos a luz da experiência brasileira. O texto está em inglês, mas compensará o esforço.

Anderson Boanafina
Rio, 05/12/2011

Artigo: Cultura de Avaliação e Política de Avaliação como guias para a sua Prática: Reflexões a respeito da Experiência Brasileira - http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v17n62/a09v1762.pdf

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