quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

ENEM não é um indicador de qualidade do Ensino Médio

Indicadores são definidos como sendo "um conjunto comparável de informação que permita o diagnóstico da situação em estudo, seja ela global ou parcial" (BRASIL, 1994, p.15)[1]. São mecanismos que auxiliam a avaliação e controle dos resultados ou desempenho de uma ação que se quer medir. Possibilitando, por meio do levantamento de dados e informações, por exemplo, avaliar o progresso alcançado a partir dos resultados obtidos com a implantação de programas de melhoria da qualidade de uma instituição. Eles revelam e qualificam aspectos de determinada realidade através das prováveis variações.
O desafio na construção de indicadores está em tê-los como retrato de uma determinada situação de uma maneira simples, apesar da incerteza e da complexidade que muitas vezes os envolvem. Considerando que, para serem considerados validos, segundo Jannuzzi (2002)[2], “(...)é preciso garantir que exista, de fato, uma relação recíproca entre indicando (conceito) e os indicadores propostos (...)” (p.54).
Dessa forma, o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) não pode ser considerado um Indicador da qualidade do ensino ministrado em uma determinada instituição, especialmente por ele não ter essa finalidade. Assim, o famoso “ranking” criado pela mídia é falso (veja a reportagem no link), considerando que muitas escolas de ensino médio estão montando turmas especiais, chamadas “pré-enem”, para preparar alunos com o único objetivo de elevar o desempenho da instituição. Isso não é educação de qualidade, isso é maquiagem.
O ENEM é um instrumento de avaliação individual (uma prova) que considera o nível de proficiência que o aluno adquiriu durante toda a sua vida, inclusive na escola. Desta forma, o ENEM é uma avaliação centrada nas competências e habilidades individuais de forma contextualizada, conseqüentemente, passa tanto pelo conhecimento adquirido desde o ensino fundamental até os jornais e livros que lê, as visitas aos museus e as notícias que ouve.
Se você deseja que seu filho tenha um bom desempenho no ENEM, escolha uma escola (desde o ensino fundamental) com uma boa proposta pedagogia de formação reflexiva, incentive a leitura, visite museus e debate com ele temas relevantes para a sociedade.  
Anderson Boanafina
Procon afirma que escola distorce dados do ranking do Enem 2011Leia mais sobre esse assunto em: http://oglobo.globo.com/vestibular/procon-afirma-que-escola-distorce-dados-do-ranking-do-enem-2011-6947549#ixzz2EMbR6w54

[1] BRASIL - Programa de avaliação institucional das universidades brasileiras: SESu, 1994.
[2] JANNUZZI, Paulo de Martinho - Indicadores sociais na formulação e avaliação de políticas públicas Revista Brasileira de Administração Pública, Rio de Janeiro, v.36(1):51-72, jan/fev 2002

Desafios da educação profissional - parte 1

A concepção de Educação Profissional mudou e estamos vivenciando sua expansão, a partir das políticas e programas de formação e qualificação profissional!

E a qualidade na formação desses profissionais(especialmente da saúde)? Será que estamos formando mais e, também, melhor?

Estudo (1) realizado comparando a ocorrência de erros nos anos de 2003 e 2007, em um hospital universitário brasileiro localizado em Fortaleza (Ceará), identificou:

n      Na média, a cada 1.000 itens prescritos foram identificados 292,5 erros.
n      Erros mais comuns:
a)     falta de dados na prescrição;
b)     erros no preenchimento de prontuários;
c)      falta (ilegível) de assinaturas e especificações;
d)     erros de prescrição, de manipulação e administração de medicamentos;
e)     procedimentos inapropriados ou técnicas inadequadas na administração de medicamentos.

Outra pesquisa (2), agora realizada na Unidade de clínica médica de um hospital universitário localizado na cidade de Ribeirão Preto-SP, revela um quadro semelhante.

n      Os dados foram coletados por período de 30 dias.
n      No total de 821 doses de medicamentos administrados, 70 doses continham 74 erros de medicação, ou seja, havia doses com a ocorrência de mais de um erro em sua administração.
n      Erros mais frequentes:
a)     erros de dose (24,3%);
b)     erros de horário (22,9%);
c)     uso de medicamentos não autorizados (13,5%).

Esses dados demonstram o quanto ainda é necessário a formulação e revisão de políticas, nas três esferas de governo, e de implementação de ações colaborativas entre os entes da federação, visando a formação de jovens e a qualificação de trabalhadores.

O movimento de expansão da educação profissional, contudo, não pode provocar distorções na oferta, ou seja, quantidade não significa abrir mão da qualidade, seja na concepção ou na metodologia educacional. Consequentemente, o projeto é de formação cidadã; e não somente de trabalhadores.

Anderson Boanafina
(1) Artigo: Erros de prescrição de medicamentos em um hospital brasileiro . Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v57n3/v57n3a13.pdf.  Acesso em: 30 de nov. 2012.
(2) Artigo: Análise de causa raiz: avaliação de erros de medicação em um hospital universitário Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n1/a20v44n1.pdf.  Acesso em: 29 de nov. 2012.

Curso de Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde

O Curso de Especialização em Preservação e Gestão do Patrimônio Cultural das Ciências e da Saúde, da Casa de Oswaldo Cruz, é uma proposta inovadora, que parte do estudo das diferenças conceituais e epistemológicas entre história, memória e patrimônio, associando a esses os debates sobre a formulação e a aplicação dos princípios legais e dos rumos das políticas de preservação, sendo uma oportunidade para profissionais que desejam atuar tanto no segmento profissional quanto no acadêmico.

São oferecidas 20 vagas para pessoas com diploma de nível superior, principalmente, nas áreas das ciências humanas, ciências sociais aplicadas e ciências da saúde, que atuam ou possam atuar em órgãos ministeriais, das secretarias estaduais e municipais e de suas agências, institutos e hospitais, assim como em instituições de custódia (arquivos, museus, bibliotecas e centros de documentação), responsáveis pela preservação do patrimônio cultural das ciências e da saúde.

As inscrições estão abertas até o dia 8 de fevereiro de 2013, sendo necessário acessar a Chamada Pública no site www.coc.fiocruz.br para obter informações sobre o processo seletivo.  Outros esclarecimentos poderão ser obtidas pelo telefone: (21)3865-22344 ou pelo e-mail: secadcoc@fiocruz.br.    

As aulas serão ministradas na Casa de Oswaldo Cruz (Campus Fiocruz – Manguinhos – Rio de Janeiro - RJ), as terças e quintas-feiras, das 9h às 17h. O aluno deve estar preparado também para participar de atividades fora da sede e do horário do curso.

Anderson Boanafina

Curso de Especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde

Curso de Especialização em Divulgação da Ciência, da Tecnologia e da Saúde tem como objetivo a formação de especialistas que possam acompanhar a presente e crescente demanda de mediação entre a ciência, a tecnologia e o conjunto da sociedade, tanto no campo profissional prático como no de pesquisa científica, em particular buscando estratégias e ferramentas para incrementar o diálogo na interface ciência, tecnologia, saúde e sociedade.

São oferecidas 20 vagas para pessoas com diploma de nível superior, principalmente, museólogos, comunicadores, jornalistas, cientistas, educadores, sociólogos, cenógrafos, produtores culturais, professores de ciências licenciados (nível superior) e demais na área da divulgação da ciência, da tecnologia e da saúde, da comunicação pública da ciência e da popularização científica.

As inscrições estão abertas até o dia 25 de fevereiro de 2013, sendo necessário acessar a Chamada Pública no site www.coc.fiocruz.br para obter informações sobre o processo seletivo.  Outros esclarecimentos poderão ser obtidas pelo telefone: (21)3865-22344 ou pelo e-mail: secadcoc@fiocruz.br.   

As aulas serão ministradas na Casa de Oswaldo Cruz (Campus Fiocruz – Manguinhos – Rio de Janeiro - RJ), de segunda a quinta-feira, das 9h às 13h.as terças e quintas-feiras. O aluno deve estar preparado também para participar de atividades fora da sede e do horário do curso nas demais instituições parceiras (Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST, CECIERJ e Casa da Ciência).

Anderson Boanafina

sexta-feira, 16 de março de 2012

BRASIL ENTRE AS 100 MELHORES UNIVERSIDADES DO MUNDO

Sinceramente, não sei se choro por somente termos uma (USP) ou se fico feliz por, pelo menos, termos uma Universidade na lista das TOP 100 do Mundo (Top Universities by Reputation 2012).

A pesquisa, realizada pela Thomson Reuters, solicitou a 31 mil pesquisadores (de 149 países) que identificassem quais seriam as universidades com maior relevância no ensino e na pesquisa em seu campo de atuação (ver resultado no link). No resultado a USP aparece entre as posições 61-70 (de 100). Se valer como consolo, o Brasil é o único país da América do Sul e Central e de língua portuguesa a aparecer no ranking.

Contudo, para uma Nação que buscar ser uma grande potencia mundial, ter apenas uma Universidade no ranking (esqueçamos as questões políticas que podem envolver a escolha) é muito pouco, pois uma educação de qualidade se constrói com docentes e pesquisadores formados por docentes e pesquisadores de excelência que ministrem cursos de excelência em Universidades de excelência.

Investimentos nas áreas de ensino, ciência e tecnologia e em pesquisa não podem “sofrer” cortes ou contingência (nome mais bonitinho para o corte), ao contrário, saúde, educação e pesquisa deveriam ter prioridade na execução do orçamento, pois a cada ano estamos perdendo milhares de potenciais Prêmios Nobel para o ostracismo, no sentido de isolamento, do mundo acadêmico.

Anderson Boanafina
Rio, 15/03/2012

terça-feira, 13 de março de 2012

FORMAÇÃO PROFISSIONAL: MODISMO OU POLÍTICA

A LDB de 1996 trouxe, para a educação profissional, diversas mudanças que, nem sempre, foram recebidas por especialistas como sendo de interesse da sociedade. Críticos do novo modelo educacional apontavam para a demasiada fragmentação do ensino profissionalizante sendo, consequentemente, um elemento causador da alienação do aluno que, posteriormente, afetaria a sua condição de trabalhador. Essa fragmentação da educação profissional, como sinalizam Frigotto, Ciavatta e Ramos, estava na abdicação de uma política educacional que privilegiasse a formação integrada por uma que acolhesse, exclusivamente, as necessidades do mercado.

Contudo, com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, o foco dos jovens vem mudando, deixando as profissões clássicas de lado e passando a buscar àquelas que melhor remunera. Infelizmente essa visão vem afastando os jovens de uma formação cidadã, estruturada por uma consciência mais crítica sobre os problemas que afetam a nossa sociedade, e os aproximando de uma formação mais pragmática, porém, muito restritiva. 
Se de um lado precisamos compreender que o jovem necessita estar preparado para os desafios constantes impostas pela dinâmica do mercado de trabalho, por outro, não se pode negar que uma formação que responda, rapidamente, somente às necessidades das organizações tende a gerar, em poucos anos, uma legião de “profissionais obsoletos” que não aprenderam a refletir e mudar a sua própria realidade e do meio onde vive. 
Reportagem no Portal G1 aponta que:
“Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) feita em 402 indústrias de todo o Brasil revela quais são as profissões do futuro. São nove áreas que terão grande oferta de vagas até 2020. Todas têm relação com engenharia, automação e conhecimentos de informática.

São elas: supervisor de transformação em indústria de transformação de plástico, engenheiro de petróleo, técnico em sistema de informação, trabalhador de superfície de metais, engenheiro de mobilidade, técnico em mecatrônica, biotecnologista, engenheiro ambiental e sanitário e desenhista técnico em eletricidade, eletrônica e eletromecânica.”

Na reportagem podemos identificar profissões de nível superior e médio que, certamente, serão os alvos dos jovens que buscam formação para o emprego como, no passado bem recente, eram o técnico de telecomunicações, de informática e de segurança do trabalho que, atualmente, estão “fora de moda”, porém, com milhares de egressos buscando emprego. E agora? Será que a nossa sociedade está fadada a sempre formar “profissionais obsoletos” ou será que, na realidade, o que nos falta é uma política de formação de profissionais alinhada com uma política de geração de trabalho e renda?
Precisamos construir uma Nação sólida, com perspectivas e projetos de médio e longo prazo tanto de crescimento econômico como de formação de RH, ou seja, independentemente do modismo o que necessitamos são de Políticas de Estado.   
Anderson Boanafina
Rio, 13/03/2012
Link para a reportagem no G1: http://g1.globo.com/vestibular-e-educacao/noticia/2012/03/pesquisa-mostra-quais-sao-nove-profissoes-do-futuro.html

segunda-feira, 5 de março de 2012

O PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA SOCIEDADE

Em 1819, em um antigo convento dos jesuítas na Bahia, foi criado o Seminário dos Órfãos destinado a acolher os órfãos e abandonados que, aproveitando a proximidade com a estação de Trem da Capitania, ministrava formação em mecânica. Deste em diante, por mais de um século, todos os asilos passaram a oferecer uma formação para os órfãos e desvalidos da sorte. Esse fato, segundo Fonseca (1961), fomentou a visão de que o ensino profissional deveria ser,
“(...) ministrado aos abandonados, aos infelizes, aos desamparados. (...), portanto, teve tanta influência nos nossos destinos, atrasando de um século a boa compreensão que deve presidir ao ensino para a indústria(...)” (p. 104)
Nesse período, mestres vieram de Portugal com a condição de assumir aprendizes para ensinar seus ofícios, como também suprir a carência de operários qualificados para a expansão industrial que se iniciava. Contudo, enquanto uma pequena classe rica recebia um ensino com o objetivo, segundo Romanelli (1998), de “(...) robustecer a memória e capacitar o raciocínio para fazer comentários de textos”. (p.34), a grande massa da sociedade (que era composta por escravos, alforriados, pobres e desvalidos da sorte), recebia um ensino de ofício.
O ensino profissional era considerado essencialmente como uma forma de educação destinada aos pobres, mas sem uma significativa importância do ponto de vista econômico, social ou educacional. Não se tratava de uma política de combate à pobreza ou ao analfabetismo, mas uma ação assistencialista. Sendo a forma que governo e igreja estruturaram para controlar, mesmo temporariamente, a ociosidade dos jovens carentes que, sem oportunidade de acesso e de permanência nas escolas regulares propedêutica, vagavam pelas ruas das cidades.

Essa gênese da escola brasileira, como instituição formadora de elite, estava dissociada dos meios de produção e, como sintetiza Anísio Teixeira (1999), “(...) a escola comum, intelectualista e livresca, se fez uma instituição mais ou menos inútil para a maioria dos seus alunos(...)” (p.312), mas contribuía na construção do imaginário social de uma escola que formava a elite pensante e rica do País, consequentemente, um modelo de sucesso a ser desejado por todos.    

Quase dois séculos depois, a concepção de educação para o trabalho ainda encontra resistência na própria sociedade, especialmente por dois fatores interligados: a) o imaginário coletivo da conquista do “status do nível superior”, seja por ter um diploma ou por considerar que será mais fácil se inserir no mundo produtivo; b) a falta de um planejamento onde seja criada uma convergência entre as demandas regionais por profissionais e a formação desses profissionais em escolas técnicas.

Parte da solução, do primeiro fator, depende de políticas de fomento de oferta de cursos direcionados (segundo fator) para demandas ou perfil produtivo local, pois com a geração de emprego, na região, o jovem terá mais incentivo de realizar um curso que, potencialmente, servirá de acesso ao emprego. Sobre o “status”, somente com o tempo a sociedade entenderá que a valorização pessoal não depende de diploma, mas de valores pessoais e profissionais que, independentemente de um diploma de graduação, são construídas pelo indivíduo.    

Para atender ao segundo fator, os gestores responsáveis pela estruturação de instituições de educação profissional necessitam despir-ser dos seus preconceitos, ideologias pessoais e/ou acepções político-partidário para visualizar, tecnicamente, o que a sociedade está demandando, ou seja, não se pode definir um modelo de escola técnica e seus cursos sem antes conhecer e ouvir a sociedade local, caso contrário, teremos muitas escolas... porém.... vazias!    

Anderson Boanafina
Rio, 05/03/2012

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

AS LIÇÕES DA REVOLUÇÃO EDUCACIONAL FINLANDESA PARA O MUNDO

Prezados Amigos,

Após um merecido e esperado período de férias, estou retornando ao trabalho com muita vontade de criar novos espaços e oportunidades nesse Blog.

Então! Vamos trabalhar?

O texto que segue é uma reportagem publicada pelo O Globo sobre a educação na Finlândia.

Vale a leitura e, principlamente, uma reflexão sobre a afirmativa do autor do livro
.... não existe nenhuma fórmula mágica nem um milagre secreto na educação finlandesa. O que fizemos melhor do que outros países foi entender qual é a essência do bom ensino e do bom aprendizado. As crianças devem ser vistas como indivíduos que têm diferentes necessidades e interesses na escola. Ensinar deve ser uma profissão inspiradora com um grande propósito de fazer a diferença na vida dos jovens


Segue a reportagem (publicada em 28/02/2012)



RIO - No ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) 2009, aplicado em 65 países pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a Finlândia alcançou o 3º lugar. O país chama a atenção não só pelos bons resultados, mas por apresentar um modelo diferente dos outros líderes do ranking, China e Coreia do Sul. No lugar de toneladas de exercícios e de um ritmo frenético de estudo, na Finlândia, há pouco dever de casa, e a maior preocupação é com a qualidade dos professores e dos ambientes de aprendizado. Não há avaliações periódicas padronizadas de alunos e docentes, que não recebem remuneração por desempenho. E todo o sistema escolar é financiado pelo Estado.
Em seu livro, “Finnish lessons: what can the world learn from educational change in Finland?” (em uma tradução livre, Lições finlandesas: o que o mundo pode aprender com a mudança educacional na Finlândia?), Pasi Sahlberg, diretor de um centro de estudos vinculado ao Ministério da Educação do país, diz que o magistério é a carreira mais popular entre os jovens e que a transformação no Brasil deve começar pela igualdade de acesso a um ensino de qualidade.
O GLOBO: A Finlândia ocupa a 3 posição no ranking do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), entre 65 países avaliados pelo exame da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No entanto, nem sempre foi assim. Quando começou a transformação na educação finlandesa?
PASI SAHLBERG: A grande transformação do sistema educacional finlandês começou no início da década de 1970, quando foi criado o sistema de ensino obrigatório de nove anos. Todas as crianças do país passaram a estudar em escolas públicas parecidas e de acordo com o mesmo currículo nacional. O principal objetivo desse modelo era igualar a oportunidade de acesso a uma educação de qualidade e aumentar o nível educacional da população. Assim, a reforma educacional não foi guiada pelo sucesso escolar e, sim, pela democratização do acesso a escolas de qualidade. Esse movimento continuou nos anos 90, com a necessidade de uma população mais preparada para o mercado de trabalho.

O GLOBO: Quais foram as bases da revolução educacional finlandesa? Quais são seus pontos fortes?
SAHLBERG: O compromisso da sociedade finlandesa pela igualdade de acesso a uma educação de qualidade foi decisivo. A Finlândia com seus 5 milhões de habitantes não pode perder nenhum jovem. Todos precisam ter uma educação de qualidade. Os pontos fortes do sistema finlandês são o foco nas escolas, para que elas possam ajudar as crianças a ter sucesso; educação primária de alta qualidade, que dê uma base sólida para as etapas seguintes do aprendizado; e a formação de professores em universidades de ponta, que tornaram a profissão uma das mais populares entre os jovens finlandeses.

O GLOBO: No Brasil, muitas políticas públicas sofrem com a falta de continuidade. Isso acontece na Finlândia? O que fazer para garantir a continuidade?
SAHLBERG: A Finlândia manteve uma política pública estável desde a década de 70. Diferentes governos nunca tocaram nos princípios que nortearam a reforma, apenas fizeram um ajuste fino em alguns pontos. Essa ideia de uma escola pública de qualidade para todos os finlandeses foi um consenso nacional construído desde a Segunda Guerra Mundial. É o que no livro eu chamo de “sonho finlandês”.

O GLOBO: O mundo parece buscar uma fórmula mágica para a educação. Existe uma fórmula válida para todos?
SAHLBERG: Não, não existe nenhuma fórmula mágica nem um milagre secreto na educação finlandesa. O que fizemos melhor do que outros países foi entender qual é a essência do bom ensino e do bom aprendizado. As crianças devem ser vistas como indivíduos que têm diferentes necessidades e interesses na escola. Ensinar deve ser uma profissão inspiradora com um grande propósito de fazer a diferença na vida dos jovens. Infelizmente, esses princípios básicos deram lugar a políticas regidas pelo mercado em vários países. Essa lógica de testar estudantes e professores direcionou os currículos e aumentou o tédio em milhões de salas de aula. A fórmula para uma reforma da educação em muitos países é parar de fazer essas coisas sem sentido e entender o que é importante na educação.

O GLOBO: O que foi feito na Finlândia e que poderia ser reproduzido em outros países em desenvolvimento, como o Brasil?
SAHLBERG: A pergunta deve ser o que é possível aprender com a experiência finlandesa, não reproduzir. Primeiro, a experiência da Finlândia mostrou que é possível construir um modelo alternativo àquele que predomina nos Estados Unidos, na Inglaterra e em outros países. Mostramos aqui que reformas guiadas pelo mercado, com foco em competição e privatizações não são a melhor maneira de melhorar a qualidade e a equidade na educação. Segundo, é importante focar no bem-estar das crianças e no aprendizado da primeira infância. Só saudáveis e felizes elas aprenderão bem. Terceiro, a Finlândia mostrou que igualdade de oportunidades também produz um aumento na qualidade do aprendizado. É preciso que o Brasil combata essa desigualdade de acesso. Só um plano de longo prazo para a educação e compromisso político possibilitarão que os resultados sejam alcançados.

O GLOBO: Os professores ocupam um papel importante no sistema finlandês. Como prepará-los bem? Um salário atrativo é importante?
SAHLBERG: Professores são profissionais de alto nível, como médicos ou economistas. Eles precisam de uma sólida formação teórica e treinamento prático. Em todos os sistemas educacionais de sucesso, professores são formados em universidades de excelência e possuem mestrado. O salário dos professores deve estar no mesmo patamar de outras profissões com o mesmo nível de formação no mercado de trabalho. Também é importante que professores tenham um plano de carreira, com perspectivas de crescimento e desenvolvimento.

O GLOBO: No Brasil, poucos jovens são atraídos pelo magistério. A carreira atrai muitos jovens na Finlândia?
SAHLBERG: O magistério é uma das profissões mais populares entre os jovens finlandeses. Todo ano, cerca de um a cada cinco alunos que terminam o ensino médio tem a carreira como primeira opção. Há dez vezes mais candidatos para programas de formação de docentes para educação infantil do que vagas nas universidades. A Finlândia tem o privilégio de poder controlar a qualidade dos professores na entrada e depois garantir que só os melhores e mais comprometidos serão aceitos nessa profissão nobre.

O GLOBO: A inclusão das novas tecnologias nas salas de aula vem sendo muito debatida. Como você vê esse processo? Como isso é feito na Finlândia?
SAHLBERG: Tecnologia é parte das nossas vidas e é usada nas escolas finlandesas. Professores na Finlândia usam tecnologia para ensinar de maneiras muito diferentes. Alguns, a utilizam muito e outros raramente. Aqui a tecnologia é uma ferramenta, mas o foco continua sendo na pedagogia entre pessoas, sem tecnologia. A tecnologia não deve guiar o desenvolvimento educacional e, sim, ser uma ferramenta como várias outras.

O GLOBO: Retomando o título do seu livro, quais são, afinal, as principais lições do sistema de educação finlandês?
SAHLBERG: A mais importante das lições é que há uma alternativa para se chegar ao sucesso prometido por reformas guiadas pelo mercado. A Finlândia é o antídoto a este movimento que impõe provas padronizadas, privatização de escolas públicas e remunera os professores com base em avaliações de desempenho que se tornou típico de diversos sistemas educacionais pelo mundo.


quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

A FORMAÇÃO DOCENTE E A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA EM SAÚDE.

Um dos grandes desafios da educação, no atual momento histórico, não se refere a sua capacidade de produzir, reproduzir ou transmitir informações, mas sim, reconhecer o que é importante ensinar e, de fato, como utilizar a informação para gerar conhecimento. Nessa perspectiva, uma atenção especial no desenvolvimento de material didático para uso em cursos na modalidade de educação a distância – EAD assume uma função estratégica para o alcance dos seus objetivos, principalmente quando o curso buscar promover a formação de profissionais da saúde que, longe dos grandes centros ou por falta de tempo, não possuem condições de acesso ou de horário para frequentar cursos presenciais.

Como ponto referencial para a área da saúde, o material didático deve atender os princípios basais de uma pedagogia que considere o aluno como o centro do processo de aprendizagem, mesclando o uso de recursos didáticos, como textos, vídeos e acesso a bibliotecas e ambientes virtuais, com a interação de tutores preparados para articular formação com informações complementares, ou seja, um material onde co-existam uma estrutura básica e as especificidades regionais.

Em outras palavras, não se pode separar forma de conteúdo. O objetivo deve ser o de preparar material didático integrando o conteúdo à tecnologia, às estratégias de aprendizagem com as de ensino. Desta forma, ampliando o acesso à formação de qualidade, a qualificação de profissionais ganha mais capilaridade atendendo as demandas do SUS por recursos humanos aptos a interagir em situações locais, sem perder o foco no global.

Agora surge a grande questão: nós, docentes da área da saúde, estamos preparados para desenvolver material ou interagir com essa modalidade de educação (EaD)?  

O link a seguir é de um artigo onde a autora (Marluce Alves Nunes Oliveira) provoca, como ela mesmo define, uma reflexão sobre a importância da Educação Permanente em Saúde (EPS) na promoção do processo de mudança nos docentes .

Nosso dever como professor é, além da permanente atualização, compreender e incorporar na nossa prática docente as novas mídias como ferramentas. Caso isso não ocorra, seremos socialmente classificados como docentes obsoletos. Você já pensou nisso?

Anderson Boanafina

Rio de Janeiro, 04 de Janeiro de 2012 

Link Artigo: Educação à Distância como estratégia para a educação permanente em saúde: possibilidades e desafios

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

ESTAMOS NA ERA DA OBSOLESCÊNCIA PROGRAMADA DOS DOCENTES?

Em breve iniciaremos mais um ano letivo e, mais uma vez, ouviremos que a qualidade da educação nas escolas brasileiras está aquém das necessidades de crescimento do nosso país. E, muito provavelmente, ouviremos, também, que o problema está na formação docente ou na falta de qualidade dos cursos de licenciatura.      

De fato, enquanto os alunos enfrentam a odisséia da busca de aprender algo significativo para a sua vida, os professores encontram, no ato de ensinar, o desafio de relacionar informações, representadas em diferentes formas, para ajudar seus alunos na construção do conhecimento.

Saber vencer as barreiras existentes no ato de ensinar passa, necessariamente, pelo tema “formação de professores”. Embora muito discutido, o tema ainda encontra a resistência de muitas universidades em mudar/atualizar seus currículos, preferindo manter em seus cursos de licenciatura um viés mais conteudista deixando de estimular, nos futuros docentes, a construção de competências necessárias para dar sentido aos conteúdos programáticos das suas respectivas disciplinas.

A formação docente, como preconiza a LDB, reflete no aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico (LDB 9394/96, Art 35). Ou seja, no preparo de pessoas com autonomia para posicionar-se criticamente frente aos desafios impostos por um mundo sem fronteiras, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade onde vive.

Contudo, vale ressaltar que identificar os problemas, geralmente, é a parte mais fácil. Dificil é encontrar e implementar solução(ões). Consequentemente, na área da educação o problema não está, somente, no pedagógico. Como alerta meu amigo Pedro em seu artigo (no link),
“Muitos dos temas controvertidos em Educação têm suas origens não em aspectos pedagógicos ou metodológicos, mas em questões Culturais, Sociais e Políticas mais amplas e complexas do que os que antecedem e determinam. Isso inclui os critérios de Qualidade em Educação e possibilidades para a sua avaliação e traz consequências para a forma como avaliações de qualidade de ensino são concebidas e encaminhadas.”

Assim, convido  vocês, meus amigos leitores, a ler o artigo “Avaliação da qualidade docente” de Pedro Flexa Ribeiro, que nos ajuda a pensar um pouco mais sobre a formação docente e a sua influência no ambiente escolar.

Ah! sobre o título dessa postagem....acho melhor cada um responder após a leitura do artigo!
Anderson Boanafina (Rio, 03/01/2012)

Link Artigo: Avaliação da qualidade docente