segunda-feira, 5 de março de 2012

O PAPEL DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NA SOCIEDADE

Em 1819, em um antigo convento dos jesuítas na Bahia, foi criado o Seminário dos Órfãos destinado a acolher os órfãos e abandonados que, aproveitando a proximidade com a estação de Trem da Capitania, ministrava formação em mecânica. Deste em diante, por mais de um século, todos os asilos passaram a oferecer uma formação para os órfãos e desvalidos da sorte. Esse fato, segundo Fonseca (1961), fomentou a visão de que o ensino profissional deveria ser,
“(...) ministrado aos abandonados, aos infelizes, aos desamparados. (...), portanto, teve tanta influência nos nossos destinos, atrasando de um século a boa compreensão que deve presidir ao ensino para a indústria(...)” (p. 104)
Nesse período, mestres vieram de Portugal com a condição de assumir aprendizes para ensinar seus ofícios, como também suprir a carência de operários qualificados para a expansão industrial que se iniciava. Contudo, enquanto uma pequena classe rica recebia um ensino com o objetivo, segundo Romanelli (1998), de “(...) robustecer a memória e capacitar o raciocínio para fazer comentários de textos”. (p.34), a grande massa da sociedade (que era composta por escravos, alforriados, pobres e desvalidos da sorte), recebia um ensino de ofício.
O ensino profissional era considerado essencialmente como uma forma de educação destinada aos pobres, mas sem uma significativa importância do ponto de vista econômico, social ou educacional. Não se tratava de uma política de combate à pobreza ou ao analfabetismo, mas uma ação assistencialista. Sendo a forma que governo e igreja estruturaram para controlar, mesmo temporariamente, a ociosidade dos jovens carentes que, sem oportunidade de acesso e de permanência nas escolas regulares propedêutica, vagavam pelas ruas das cidades.

Essa gênese da escola brasileira, como instituição formadora de elite, estava dissociada dos meios de produção e, como sintetiza Anísio Teixeira (1999), “(...) a escola comum, intelectualista e livresca, se fez uma instituição mais ou menos inútil para a maioria dos seus alunos(...)” (p.312), mas contribuía na construção do imaginário social de uma escola que formava a elite pensante e rica do País, consequentemente, um modelo de sucesso a ser desejado por todos.    

Quase dois séculos depois, a concepção de educação para o trabalho ainda encontra resistência na própria sociedade, especialmente por dois fatores interligados: a) o imaginário coletivo da conquista do “status do nível superior”, seja por ter um diploma ou por considerar que será mais fácil se inserir no mundo produtivo; b) a falta de um planejamento onde seja criada uma convergência entre as demandas regionais por profissionais e a formação desses profissionais em escolas técnicas.

Parte da solução, do primeiro fator, depende de políticas de fomento de oferta de cursos direcionados (segundo fator) para demandas ou perfil produtivo local, pois com a geração de emprego, na região, o jovem terá mais incentivo de realizar um curso que, potencialmente, servirá de acesso ao emprego. Sobre o “status”, somente com o tempo a sociedade entenderá que a valorização pessoal não depende de diploma, mas de valores pessoais e profissionais que, independentemente de um diploma de graduação, são construídas pelo indivíduo.    

Para atender ao segundo fator, os gestores responsáveis pela estruturação de instituições de educação profissional necessitam despir-ser dos seus preconceitos, ideologias pessoais e/ou acepções político-partidário para visualizar, tecnicamente, o que a sociedade está demandando, ou seja, não se pode definir um modelo de escola técnica e seus cursos sem antes conhecer e ouvir a sociedade local, caso contrário, teremos muitas escolas... porém.... vazias!    

Anderson Boanafina
Rio, 05/03/2012

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